Mudar

Há algumas semanas, após inúmeros estresses com a falta de água no nosso antigo apartamento — e aparentemente só no nosso — decidimos mudar. Após nove meses como inquilino, enfim entramos em contato com o locador do apartamento para questioná-lo sobre esses problemas. Calado ele estava, calado ele ficou. Assim iniciamos nossa mudança.
Mudar sempre é um processo empolgante, o processo da mudança é que não. Isso se aplica em várias ocasiões, desde trocar o número do telefone até morar em outro país. O processo da mudança é carregado por vários estágios, cada um com sua dose de emoções.
No momento em que decidimos mudar, seja lá o que for, o sentimento dominante é o de empolgação. Durante o processo, vamos da total certeza de tudo à completa dúvida muito rapidamente, nesse ponto, surgem os questionamentos incessantes. Quando finalizado, em muitos casos vem o alívio, já em outros, vem a decepção pela decisão tomada lá atrás.
Com a decisão tomada, iniciamos os planos, e as fantasias. Definimos os critérios a serem usados na hora de decidir para onde ir. Marcamos um dia para percorrer bairros que nos interessavam, confiantes que lá iríamos encontrar boas opções. No dia do desbravamento saímos cedo, confiantes e esperançosos. No fim, nada.
Fomos em outro bairro tentando esconder o descontentamento. Enfim surgiram as opções e os sorrisos retornaram aos nossos rostos. Foto aqui, foto ali, foto desse, foto daquele. Voltamos contentes, cheios de esperança. Aos poucos as expectativas foram se esvaindo com as respostas negativas. O brilho nos olhos retornou com a mensagem que um apartamento, o qual nem havíamos visto alguma placa se quer, iria vagar em breve.
A vida é construída com mudanças, algumas escolhidas, algumas obrigadas, mas o ponto é que impossivelmente passamos pela vida sem que não tenha havido alguma única mudança. Mas, como dito, o processo da mudança não é tão empolgante. Se pudéssemos, partiríamos da decisão de mudar direto para o resultado.

Há pouco mais de um ano decidi aceitar uma proposta de emprego em outra cidade, algo que até então era inimaginável. Tinha e tenho planos de alçar voos cada vez maiores, porém, naquele momento, sair da casa dos meus pais não estava nos planos. Decidi mudar. Mudei.
No dia da viagem, ao subir na moto e ver minhas coisas organizadas em um caminhão — que ao todo ocupava um terço da carroceria — todos os questionamentos vieram à tona em frações de segundos.
Meu pai me acompanhara na viagem para ajudar a descarregar. Em casa, minha mãe e minha irmã ficaram no seu aguardo. Com a moto em movimento, olhei pela última vez para minha família como morador daquela casa. Vi sorrisos de felicidades se transformando em lágrimas de despedida. Minha decisão foi tomada. Parti.
Somos constantemente submetidos a transformações naturais, derivadas do nosso processo biológico de crescimento, assim como somos expostos a necessárias alterações vindas com as mudanças climáticas e sociais a qual estamos inseridos, seja mudar a rota que fazemos para o trabalho devido um árvore que caiu durante uma chuva, ou seja a mudança na forma como nos socializamos com as pessoas ao nosso redor na medida em que vamos a conhecendo.
Após cerca sete meses na cidade nova — e uma enxurrada de decepções vindas do novo emprego — decidimos novamente mudar. Mudar de trabalho. Mudar de cidade. Voltar.
Na época, a decisão de partir havia parecido como um passo à frente, talvez até maior do que as pernas pudessem fazer, mas a frente. Voltar, podia dar a entender que estaria retrocedendo. Mesmo assim, voltamos. Ficar até era uma opção, mas não agradava. Voltamos. Um passo para trás. Dois para frente.
A questão aqui é, inevitavelmente mudamos. Mudamos quando sentimos a necessidade de mostrar aos que nos rodeiam que já não somos mais criança, mudamos quando vemos a oportunidade de ocupar uma posição melhor no emprego, mudamos quando recebemos propostas para ingressar em um novo trabalho, ou estudo, ou projeto, ou relacionamento, enfim, mudamos. Mudamos até para retornar a casa, a rua, ao bairro, a cidade, ao emprego, ao que quer que seja, que já tenhamos passado.
Hoje, pouco mais de uma semana reinstalados em um novo apartamento, nos preparamos para novas mudanças. Novos gastos, novos ganhos. Novas oportunidades que há de vir. Novos momentos.
Há nove meses mudamos para Sobral após uma temporada em outra cidade. Há algumas semanas mudamos pela terceira vez após cerca de 1 ano e meio sob o mesmo teto. A todo momento mudamos para uma versão melhor de nós mesmos.
Há algum tempo, ainda me enxergava com o reflexo do passado. Hoje, me enxergo com a expectativa do futuro. Mudei. Mudarei. Estou mudando agora mesmo.
Para minha família, que sempre que me ajudou a mudar para melhor.
Texto publicado no Medium
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